poemas de oficina

poemas-exercício tecidos com carinho e entusiasmo nas oficinas do Rafael Zacca e do Fábio Pessanha
... porque talvez seja ainda mais interessante ofertar as próprias entranhas dos poemas, ainda necessitados de tantas reescritas...:


#
dentro do medo o fogo
carburado na balbúrdia
de um silêncio
quando incompreensões
se desconfiam e tentam
se alcançar

uma voz que diz
o quê
dentro da noite
e do dia

rasgando
chamas em lâmina
chamando
sonhos à luz
nem que seja da lua

se todo amor
é impossível
ainda assim
dá pra fazer
muito com os destroços
— diz-me o fogo

desatento talvez
disto também
se aplicar a nós

destroços de um encontro
como o poema
impossível
(não há pontes
para os deuses)


# como cicatrizar um banho?

numa pesquisa etimológica
muito atentamente sem
espantar nenhuns espantos

primeiro aprender como
fazer escorregar, o banho ensina
se nos (dis)pomos a escavar
com afinco as dores e puxá-las
com carinho — como a aranha
puxa a teia — até as trans
porejarmos e esfregando
deslizá-las para os longes
para o quando depois
num instante qualquer
lembrar quase mornamente

mas do banho sempre
resta alguma farpa
que não cicatriza


#
como
através de uma brasa
—a própria língua —
aprender a sangrar
                                 uma voz

que em sua dança de relance
alcance dizer em pânico
palavra que valha a pena

como
pólen de pensamento
gozo desajustado
lampejo doce
                         delirância


# pisca pisca

cada bunda de vaga-lume
não neurônio
nem uma ideia

mas sinapse
caminho

costurar com fios
de palavras entrelaçadas
o desrumo
                    colar de lampejos


# Atores em cena – take 2

fazer o check-in na recepção
subir ao quarto
com ele ao lado

quatrocentos e quarenta quilômetros
para estar perto para

(Aguarde enquanto o anfitrião 
autoriza o acesso à sala de vídeo)

como se para uma câmera
invisível
modulando o sorriso

primeiro eu
de mãos suando
em meu monólogo

dizer: precisamos conversar
com a voz controlada

(sempre controlado
como se para uma câmera
invisível)

eu transido transpirando tentando o autocontrole no meio
do teatro da minha própria dramaticidade
enquanto ele espontâneo
em sorrisos calmos
que não parecem modulados
depois ele
enquanto estalo
os dedos
dizendo tudo bem
(não tenho como
desligar o microfone)

até que nada mais
resta a dizer

(Fim da videochamada)

e não estamos mais
à frente nem ao lado
como se para uma câmera
invisível


# Atores em cena - alternative take

recepção
subir ao quarto
ele ao lado

quatrocentos e quarenta quilômetros

flash na mente: aguarde
o anfitrião lhe dará
acesso à videochamada

câmera
sorriso

sento-me na cama
mãos suando
monologo
voz controlada
(fim)

câmera
invisível

eu todo teatro
de solenidade
ele leveza

câmera
lágrimas

diz-me
você veio até aqui
pra isso?

penso: é o mínimo

fim da videochamada



# palavras alucinógeno extraídas de uma prosa de fábio pessanha

o que torna a palavra um poema 
nenhum poeta sabe, mas 
se arrisca nesse salto 
por onde o poético adentra 
sem pedir licença 
quem quiser que se poeme! 
o poeta se exerce em plena 
fuga do que lhe chega aos poros 
então, só nos é viável 
escrever de retravés 
a música é a parte consciente do silêncio 
o quase é uma constante 
poeta é aquele que se lança 
à sua própria incompreensão

Livros

lagarta chã

Daí a brisa forte e sadia que vem deste novo livro de Thássio Ferreira, muito felizmente chamado lagarta chã. Algo que responde ao mundo, mas anseia o que não se contenta na resposta – antes convoca, aponta, desdobra.

O que temos aqui é, como nunca deixará de ser necessário, um encantamento múltiplo com o ponto mais chão, a coisa mais chã: das turbinas às lagartas, dos mucos às galáxias, passando pelas casas, as plantas, os poetas, os corpos, as parafernálias que fazem uma vida, muitas vidas.

(Guilherme Gontijo Flores)

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Nunca estivemos no Kansas

Vinte e dois contos que transitam por diversos cenários, relações humanas e estruturas narrativas, construindo uma cartografia de arestas e descaminhos, desde um idílio qualquer onde nunca estivemos — individual e coletivamente — até o presente e além.

Parte dos contos reunidos angariou prêmios como Off-Flip (2019) e Prêmio Cidade de Manaus (2020), foi finalista do Prêmio Sesc (2017) e publicada em veículos como Jornal Rascunho, Revista Garupa e Vício Velho.

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agora (depois)

Em seu terceiro livro, Thássio Ferreira desnovela a linha do tempo de uma história de amor, de trás para frente, em 52 poemas organizados em duas partes: um “agora (depois)” instalado com a separação; e o “agora” anterior, do início do relacionamento até sua crise. Dividindo esses dois tempos, um retrato em prosa do momento fatal em que o barco se desamarra do cais.

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Itinerários

Itinerários, de Thássio Ferreira, vencedor do I Concurso Literário Editora UFPR, em sua linguagem agradável, técnica refinada no uso de rimas internas e externas, ritmos cadenciados, ecos verbais e temáticos, bem como suas aliterações e assonâncias sutis, promovem uma poesia impactante que envolve e encanta.

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