3 poemas Revista Gueto

poemas do livro (DES)NU(DO), publicados com editoria de Rodrigo Novaes de Almeida na Revista Gueto

DESNUDAMENTO

Eis assim, vestido todo do que sou,
vestido de mim, que vou
a um desnudamento.
Desprotegido do que minto,
desarmado do que acuso,
enxuto e contrito
do que cantei e calei
em farsa, em falsete, em farisaísmo,
e com o que — turvo e estranho fluido
todo espinhos, embora líquido —
eu cobria meu corpo e meu espírito.

Eis então, vestido apenas do eu
que é
(cada um o seu),
que rumo a uma dissecação.
A pele ao rés da carne,
a voz ao rés da alma,
gestos ao rés do coração,
sem o que não me faz parte,
mas apenas boa impressão;
como uma palma
que, sem disfarce,
a vida inteira expõe na mão.

Eis-me, pois, completa e unicamente
vestido desta existência que me queima,
a me entregar ao sol do mundo.
Do que em mim não é verdade,
limpo;
do que em mim é sujidade,
sujo;
pleno da invenção
de ser.

 

BALDIO

Dentro do meu peito,
um pouco do lado esquerdo,
perto do pulmão,
há um terreno baldio,
onde esteve o coração.
Primeiro, templo vazio,
feito casa velha, abandonada.
Empoeirou-se — tão ampla, de quatro cômodos —
e o abandono, a falta de cuidado,
as chuvas dos sábados
fizeram-na desmanchar-se de vez.
Hoje, cresce mato
áspero, danoso, sem cor,
ali naquele espaço
onde ardia meu amor.

 

PERSCRUTAÇÃO DE POETA

Em que pensa
enquanto mente
um poeta?
Que loucuras
elucubra
nos recessos
sem lua
de seu pensamento?

Que desejos sem freios
e que palavras sem dono
sem voz e sem nome
inventa?

Que poemas tão
mais intensos não
esconde?
(Que lamentos?)

 

 

— Poemas do livro (DES)NU(DO) publicados com editoria de Rodrigo Novaes de Almeida na Revista Gueto.

Livros

lagarta chã

Daí a brisa forte e sadia que vem deste novo livro de Thássio Ferreira, muito felizmente chamado lagarta chã. Algo que responde ao mundo, mas anseia o que não se contenta na resposta – antes convoca, aponta, desdobra.

O que temos aqui é, como nunca deixará de ser necessário, um encantamento múltiplo com o ponto mais chão, a coisa mais chã: das turbinas às lagartas, dos mucos às galáxias, passando pelas casas, as plantas, os poetas, os corpos, as parafernálias que fazem uma vida, muitas vidas.

(Guilherme Gontijo Flores)

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Nunca estivemos no Kansas

Vinte e dois contos que transitam por diversos cenários, relações humanas e estruturas narrativas, construindo uma cartografia de arestas e descaminhos, desde um idílio qualquer onde nunca estivemos — individual e coletivamente — até o presente e além.

Parte dos contos reunidos angariou prêmios como Off-Flip (2019) e Prêmio Cidade de Manaus (2020), foi finalista do Prêmio Sesc (2017) e publicada em veículos como Jornal Rascunho, Revista Garupa e Vício Velho.

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agora (depois)

Em seu terceiro livro, Thássio Ferreira desnovela a linha do tempo de uma história de amor, de trás para frente, em 52 poemas organizados em duas partes: um “agora (depois)” instalado com a separação; e o “agora” anterior, do início do relacionamento até sua crise. Dividindo esses dois tempos, um retrato em prosa do momento fatal em que o barco se desamarra do cais.

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Itinerários

Itinerários, de Thássio Ferreira, vencedor do I Concurso Literário Editora UFPR, em sua linguagem agradável, técnica refinada no uso de rimas internas e externas, ritmos cadenciados, ecos verbais e temáticos, bem como suas aliterações e assonâncias sutis, promovem uma poesia impactante que envolve e encanta.

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O pai e eu

Caminhávamos.

(Uma semana antes, no dia dos pais, enterráramos a companheira dele. Infarto fulminante, não sofreu. Sofríamos nós. Menos mal: os vivos sofrem sempre; ao menos os que morrem, então, não sejam obrigados a mais que esse extremo: cessar. E nós?)

E nós?:

Caminhávamos.

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