(des)caminhos — publicado na Revista Aboio 2: Festa

Recentemente a Revista Aboio convidou 100 artistas contemporâneos para compartilharem trabalhos inéditos na sua nova edição impressa. O resultado é um carnaval literário de prosa e poesia, incluindo este poema surgido à beira-mar.

Recentemente a Revista Aboio convidou 100 artistas contemporâneos para compartilharem trabalhos inéditos na sua nova edição impressa. O resultado é um carnaval literário de prosa e poesia, incluindo este poema surgido à beira-mar.

 

(des)caminhos

 

1.

no poste a caminho

da praia de puruba

 

proverbial

paraíso

perdido

 

um cartaz escrito

SOU QUANDO VOU

 

paro, fico

indago pra onde

 

e sigo

(sendo)

o que consigo

 

2.

sou quando vou

ou

vou quando sou

ou

quando sou, voo

(ô)

 

nos intervalos do eco

ouça

 

de novo

lâmpada intermitente

que a prefeitura não arrumou

 

tento desfolhar outra imagem

um martelo já não me serve

quando seu metal gasto

repousa silente ao lado

das mãos inertes

 

o que se repete em meu cérebro

independe de mim

 

pica-pau cocainômano

girassol frente a uma supernova

coceira sem fim

 

3.

e quando/quem não se vai

o medo nos faz menos?

desapego pode ser mantra

mas quando somos nos olhos

de quem amamos

na boca, nos dedos

sem fôlego compartido

ou na coragem de não fugir

finco, luto, resisto

até aves migratórias voltam

pinguins imperadores

por exemplo

ano a ano retornam

à mesma ilha e mesma parceira

para acasalarem

tem quem seja a terra

e (o) que dela cresce

mas caso dela se afaste

será o quê? não se sabe

quem é praia e mais

é ao meter canoa

adentro das ondas

mas onda que leva

traz

tem gente ribeirinha

que vai sendo enquanto

a trança passa

 

tem gente de ir

e de ficar

 

4.

fico, volto, vou

quando é sempre

de tantos jeitos sou

que uma vida parece pouco

 

 

A Revista Aboio 2 — Festa pode ser adquirida no site da editora.

 

Livros

lagarta chã

Daí a brisa forte e sadia que vem deste novo livro de Thássio Ferreira, muito felizmente chamado lagarta chã. Algo que responde ao mundo, mas anseia o que não se contenta na resposta – antes convoca, aponta, desdobra.

O que temos aqui é, como nunca deixará de ser necessário, um encantamento múltiplo com o ponto mais chão, a coisa mais chã: das turbinas às lagartas, dos mucos às galáxias, passando pelas casas, as plantas, os poetas, os corpos, as parafernálias que fazem uma vida, muitas vidas.

(Guilherme Gontijo Flores)

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Nunca estivemos no Kansas

Vinte e dois contos que transitam por diversos cenários, relações humanas e estruturas narrativas, construindo uma cartografia de arestas e descaminhos, desde um idílio qualquer onde nunca estivemos — individual e coletivamente — até o presente e além.

Parte dos contos reunidos angariou prêmios como Off-Flip (2019) e Prêmio Cidade de Manaus (2020), foi finalista do Prêmio Sesc (2017) e publicada em veículos como Jornal Rascunho, Revista Garupa e Vício Velho.

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agora (depois)

Em seu terceiro livro, Thássio Ferreira desnovela a linha do tempo de uma história de amor, de trás para frente, em 52 poemas organizados em duas partes: um “agora (depois)” instalado com a separação; e o “agora” anterior, do início do relacionamento até sua crise. Dividindo esses dois tempos, um retrato em prosa do momento fatal em que o barco se desamarra do cais.

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Itinerários

Itinerários, de Thássio Ferreira, vencedor do I Concurso Literário Editora UFPR, em sua linguagem agradável, técnica refinada no uso de rimas internas e externas, ritmos cadenciados, ecos verbais e temáticos, bem como suas aliterações e assonâncias sutis, promovem uma poesia impactante que envolve e encanta.

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O pai e eu

Caminhávamos.

(Uma semana antes, no dia dos pais, enterráramos a companheira dele. Infarto fulminante, não sofreu. Sofríamos nós. Menos mal: os vivos sofrem sempre; ao menos os que morrem, então, não sejam obrigados a mais que esse extremo: cessar. E nós?)

E nós?:

Caminhávamos.

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Mundinho

Mundinho enamorou-se da selva. Apesar dos avisos, dos interditos, das tentativas do Zé Caboclo. Zé, pescador cheio de brios, não queria o filho no rio, nem nos lagos, nas beias, nem dentro da mata. Mundinho era pra contrariar o apelido: ganhar o mundão. Apanhava de cipó pra ir à escola, não era pra ficar de pavulagem com os moleques, pelas ruas de tijolos, nos barrancos do Envira. A mãe obedecia ao marido, ralhando pra ele tomar jeito, estudar, estudar, não fosse virar homem sem ler nem escrever feito ela e o Zé.

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