(…) então, após algumas prosas pandêmicas, (im)precisamente para impulsionar nossa pulsão de vida, tão preciosa nestes tempos, compartilho algumas pequenas pulsações poéticas, pelo prazer de poetar (poderoso pão para as lutas e contra as opressões), e possivelmente provocar em nós, nossas sinapses, nossas conexões (ainda que puramente virtuais), um pouco de explosão contra a paralisia, o pessimismo, o pranto. apenas isto: um tanto de poesia parida em espasmos, pescada pelas muitas “páginas” do pc, porque a poesia possui poderes inimagináveis. mesmo sem compreender, é preciso praticar. espero que seja proveitoso.
# instante-já
quanto dura um poema
na carne sem nunca do tempo?
#
umencantatória
delícia do desejo
é sua bifronte
natureza de lâmina
onde dançamos
# à moda de manoel de barros
a borboleta é uma fragilidade
que avoa
# à moda de manoel de barros II
a morte do passarinho
é quando ele dexiste de cantar
#
o poema:
fagulha
mesmo quando
construída
lapidada
destinada a:
centelha
rubra
#
gosto da chuva:
ela rega meus silêncios
bem no dentro
em branco e vazio
de suas moléculas
inda não nascidas
# (pequena) poesia insuspeita
a poesia insuspeita
toda enorme pequenice
alucinação-surpresa
em se observar
(sem mais nem menos)
uma veia que lateja
#
vêm do fundo de um silêncio azul
as palavras com que a poesia
consolidentifica seus sorrisos
multiletrados e pulsantes
de vozes com voz de mirtilos
em versos de puro ritmo
será?
#
e no entanto
(no enorme entanto
que a vida é)
move-se a vida
#
o vento nunca para
à beira de quem
dentro em si
também (sempre) venta
#
quanto é pouco demais
nos enquantos
que em (en)canto
vivemos?
#
em tudo
o tempo
deixa marcas
#
sob um céu roxo de nuvens negras
o vento assovia em canto lascivo
os gemidos em eco dos que fodem
à hora fatal dos desavisos
#
um pássaro pousa no colo do telhado
em frente à janela do quarto bem fechado
que a vista cansada do poeta em desmaio
habita sozinha sem medo nem pasmo
da vida que acorda em certos dias de maio
— Publicados em 06/2020 na Revista Vício Velho.