Poemas inéditos Revista Mallarmargens

Dois poemas inéditos publicados com editoria de Amanda Vital, Nuno Rau e Rafael Tahan.

 

manual para lidar:

 

abrir a tampa craniana

como nos desenhos animados

meter as mãos na cumbuca

talvez frente ao espelho

para melhor orientação

mergulhando os dedos

no líquor (: morno)

arrancar o cérebro

puxando com força

e velocidade (: zás)

para que nervos

veias e artérias

não tragam junto

olhos e coração

(utilizar talvez

uma tesoura?)

 

lavá-lo com esmero

e água de alfazema

 

pra ver se sai

 

 

(se sou, ou serei

qualquer inalcançável química

enxovalhando-se em meu cérebro

 

ensaiar, com rigor científico (:)

decupá-la em poesia

e esquecimento)

 

 

para rodrigo tadeu gonçalves e guilherme gontijo flores, latinistas

 

do inverso a ousadia

feito abrir a sutura ponto a ponto

—cesura dos versos

anagrama, cacofonia —

pra de novo sentir a ferida

(ardendo viva, porra: poesia!)

 

feito em subjetivo tornar

a crua (des)ordem dos dias

— dura opaca sem sorrisos

feito pura (o)pressão fascista

embolorando de puro veneno

sem nenhuma lisergia

os pães os corpos a porra toda —

que ainda podemos (tentamos)

: poesia

 

feito reabsorver o esperma

que o orgasmo desperdiça

— nesses tempos em que tanto

parece ao contrário, de costas

e pés não (jollymente) pra cima

toda energia vital é precisa —

 

feito: amar o pecado, não o pecador

: molhar o dedo, a língua, os pelos

e enfiar-se inteiro na tomada

: cuspir o que for doce (porque fácil)

e mastigar pedras até o sumo

: arrastar aviões pelo chão, com a força dos dentes

: ensinar na porrada, com todo amor

: sangrar a seco, sem o corte

: convencer a borboleta em voltar

a ser lagarta

 

verter palavras (feito:

água de volta à ânfora

ainda suspensa em voo

vertical jorro antigravitacional)

em português moderno:

tênis pelego in-ter-né-ti-co

 

para uma língua extinta

 

quero ver, poetas!

 

 

— Publicados com editoria de Amanda Vital, Nuno Rau e Rafael Tahan.

 

Livros

lagarta chã

Daí a brisa forte e sadia que vem deste novo livro de Thássio Ferreira, muito felizmente chamado lagarta chã. Algo que responde ao mundo, mas anseia o que não se contenta na resposta – antes convoca, aponta, desdobra.

O que temos aqui é, como nunca deixará de ser necessário, um encantamento múltiplo com o ponto mais chão, a coisa mais chã: das turbinas às lagartas, dos mucos às galáxias, passando pelas casas, as plantas, os poetas, os corpos, as parafernálias que fazem uma vida, muitas vidas.

(Guilherme Gontijo Flores)

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Nunca estivemos no Kansas

Vinte e dois contos que transitam por diversos cenários, relações humanas e estruturas narrativas, construindo uma cartografia de arestas e descaminhos, desde um idílio qualquer onde nunca estivemos — individual e coletivamente — até o presente e além.

Parte dos contos reunidos angariou prêmios como Off-Flip (2019) e Prêmio Cidade de Manaus (2020), foi finalista do Prêmio Sesc (2017) e publicada em veículos como Jornal Rascunho, Revista Garupa e Vício Velho.

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agora (depois)

Em seu terceiro livro, Thássio Ferreira desnovela a linha do tempo de uma história de amor, de trás para frente, em 52 poemas organizados em duas partes: um “agora (depois)” instalado com a separação; e o “agora” anterior, do início do relacionamento até sua crise. Dividindo esses dois tempos, um retrato em prosa do momento fatal em que o barco se desamarra do cais.

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Itinerários

Itinerários, de Thássio Ferreira, vencedor do I Concurso Literário Editora UFPR, em sua linguagem agradável, técnica refinada no uso de rimas internas e externas, ritmos cadenciados, ecos verbais e temáticos, bem como suas aliterações e assonâncias sutis, promovem uma poesia impactante que envolve e encanta.

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pequenas pulsações poéticas

o poema (ainda) pulsa. por baixo, por dentro, por trás, por sobre, por nós, por vós, por elas, por tudo. e é preciso que pulse, e que possamos pulsá-lo(s) na plenitude de suas potências. então, após algumas prosas pandêmicas, (im)precisamente para impulsionar nossa pulsão de vida, tão preciosa nestes tempos, compartilho algumas pequenas pulsações poéticas, pelo prazer de poetar (poderoso pão para as lutas e contra as opressões), e possivelmente provocar em nós, nossas sinapses, nossas conexões (ainda que puramente virtuais), um pouco de explosão contra a paralisia, o pessimismo, o pranto. apenas isto: um tanto de poesia parida em espasmos, pescada pelas muitas “páginas” do pc, porque a poesia possui poderes inimagináveis. mesmo sem compreender, é preciso praticar. espero que seja proveitoso.

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(DES)NU(DO)

A razão entra, sim, no cuidado de revelar a própria emoção poética, sem que a aniquile quando consumada na forma-poema.

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