manual para lidar:
abrir a tampa craniana
como nos desenhos animados
meter as mãos na cumbuca
talvez frente ao espelho
para melhor orientação
mergulhando os dedos
no líquor (: morno)
arrancar o cérebro
puxando com força
e velocidade (: zás)
para que nervos
veias e artérias
não tragam junto
olhos e coração
(utilizar talvez
uma tesoura?)
lavá-lo com esmero
e água de alfazema
pra ver se sai
(se sou, ou serei
qualquer inalcançável química
enxovalhando-se em meu cérebro
ensaiar, com rigor científico (:)
decupá-la em poesia
e esquecimento)
para rodrigo tadeu gonçalves e guilherme gontijo flores, latinistas
do inverso a ousadia
feito abrir a sutura ponto a ponto
—cesura dos versos
anagrama, cacofonia —
pra de novo sentir a ferida
(ardendo viva, porra: poesia!)
feito em subjetivo tornar
a crua (des)ordem dos dias
— dura opaca sem sorrisos
feito pura (o)pressão fascista
embolorando de puro veneno
sem nenhuma lisergia
os pães os corpos a porra toda —
que ainda podemos (tentamos)
: poesia
feito reabsorver o esperma
que o orgasmo desperdiça
— nesses tempos em que tanto
parece ao contrário, de costas
e pés não (jollymente) pra cima
toda energia vital é precisa —
feito: amar o pecado, não o pecador
: molhar o dedo, a língua, os pelos
e enfiar-se inteiro na tomada
: cuspir o que for doce (porque fácil)
e mastigar pedras até o sumo
: arrastar aviões pelo chão, com a força dos dentes
: ensinar na porrada, com todo amor
: sangrar a seco, sem o corte
: convencer a borboleta em voltar
a ser lagarta
verter palavras (feito:
água de volta à ânfora
ainda suspensa em voo
vertical jorro antigravitacional)
em português moderno:
tênis pelego in-ter-né-ti-co
para uma língua extinta
quero ver, poetas!
— Publicados com editoria de Amanda Vital, Nuno Rau e Rafael Tahan.