Coluna mensal
porque a frivolidade, além de minimamente necessária, é a cara do carnaval. porque Bandeira. porque sim. porque podem não ser grandes poemas, mas gosto deles, e nesta folia que não há, em tempos duros, pequenos afetos despretensiosos talvez sejam o que de melhor eu possa oferecer.
Dois contos das antigas, sobre amor e quase amor…
poemas-exercício forjados no calor delícia que são oficinas de poesia (para Rafael Zacca e Fabio Pessanha, oficineiros)
(A criação não é uma compreensão, é um novo mistério — Clarice, a bruxa)
Caminhávamos.
(Uma semana antes, no dia dos pais, enterráramos a companheira dele. Infarto fulminante, não sofreu. Sofríamos nós. Menos mal: os vivos sofrem sempre; ao menos os que morrem, então, não sejam obrigados a mais que esse extremo: cessar. E nós?)
E nós?:
Caminhávamos.
Sempre tive um forte apego por compreender. O que em literatura, e talvez especialmente em poesia, é um obstáculo a ser vencido.
Publicado em 08/2020 – (créditos da imagem: Cena de Bar, 1938 — Milton Dacosta)
Depois de algumas prosas pandêmicas e pequenas pulsações poéticas, quero erguer pontes, precariamente e a medo, entre esta alguma coisa em mim que não entendo — ainda mais aqui dentro, em tantos sentidos, durante este isolamento — e (vocês) lá fora:
(para Rodrigo Oliveira, a respeito de Carcaça, de Josoaldo Lima Rego):
Oi, irmãozinho.
Como tá-tu?
o poema (ainda) pulsa. por baixo, por dentro, por trás, por sobre, por nós, por vós, por elas, por tudo. e é preciso que pulse, e que possamos pulsá-lo(s) na plenitude de suas potências.
Baratas (ou Prenúncios da Peste): No duodécimo dia, vieram as baratas.
eu não sei como começar. nem como seguir.
mas sigo.
(e você, como faz?)
Daí a brisa forte e sadia que vem deste novo livro de Thássio Ferreira, muito felizmente chamado lagarta chã. Algo que responde ao mundo, mas anseia o que não se contenta na resposta – antes convoca, aponta, desdobra.
O que temos aqui é, como nunca deixará de ser necessário, um encantamento múltiplo com o ponto mais chão, a coisa mais chã: das turbinas às lagartas, dos mucos às galáxias, passando pelas casas, as plantas, os poetas, os corpos, as parafernálias que fazem uma vida, muitas vidas.
(Guilherme Gontijo Flores)
Vinte e dois contos que transitam por diversos cenários, relações humanas e estruturas narrativas, construindo uma cartografia de arestas e descaminhos, desde um idílio qualquer onde nunca estivemos — individual e coletivamente — até o presente e além.
Parte dos contos reunidos angariou prêmios como Off-Flip (2019) e Prêmio Cidade de Manaus (2020), foi finalista do Prêmio Sesc (2017) e publicada em veículos como Jornal Rascunho, Revista Garupa e Vício Velho.
Em seu terceiro livro, Thássio Ferreira desnovela a linha do tempo de uma história de amor, de trás para frente, em 52 poemas organizados em duas partes: um “agora (depois)” instalado com a separação; e o “agora” anterior, do início do relacionamento até sua crise. Dividindo esses dois tempos, um retrato em prosa do momento fatal em que o barco se desamarra do cais.
Itinerários, de Thássio Ferreira, vencedor do I Concurso Literário Editora UFPR, em sua linguagem agradável, técnica refinada no uso de rimas internas e externas, ritmos cadenciados, ecos verbais e temáticos, bem como suas aliterações e assonâncias sutis, promovem uma poesia impactante que envolve e encanta.
Sessão dupla de autógrafos dos meus livros mais recentes: lagarta chã (poemas) e Nunca estivemos no Kansas (contos)!
Fazia um frio sutil na sala de espetáculos. Um frio que, entre os espaços da música, era como um retinir metálico, um badalar de sinos, só que esférico. A plateia, imersa em breu e silêncio, era toda olhos e ouvidos atentos e pele arrepiada ao toque daquele frio esférico a preencher os hiatos da melodia feito uma contravoz distante, em tom menor. E então.
Entrevista concedida ao programa AC Encontros Literários. Para ler na íntegra, incluindo contos e poemas inéditos, acesse o Portal ArteCult.
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